domingo, 24 de junho de 2012

O Fim da Dualidade

                                                                                                                                 
Texto de Pedro Elias de 18 de junho de 2012


“A luz e as trevas, a vida e a morte, as coisas da direita e aquelas da esquerda, elas são irmãs entre si. Não é possível que se separem. Por isso, nem os bons são bons, nem os maus são maus, nem a vida é vida, nem a morte
é morte.” 

(Evangelho de Filipe)


A dualidade processa-se pelo confronto dos opostos, num atrito constante que vai depurando a substância. Essa é a razão porque a Ciência Esotérica fala do Fogo Fricativo como sendo o Fogo principal nos mundos materiais. Esse jogo dual, tal qual como um tabuleiro de xadrez onde as peças interagem nas experiências necessárias à evolução do mundo, é aquilo que os orientais chamam de Maya, a grande ilusão. Perceber que este jogo não tem por si só realidade concreta, mas que são aqueles que envolvidos neste lhe atribuem essa realidade, é o primeiro passo para que o jogo termine.
Ao longo dos séculos, em encarnações sucessivas, fizemos parte desse jogo, assumindo posições nos dois lados do tabuleiro. Fomos peões brancos e pretos, cavaleiros da luz e da sombra. Fomos bispos, torres e, em alguns casos, reis e rainhas dos dois lados do tabuleiro, alternando ao sabor das vidas consoante as experiências que necessitávamos em função da evolução do próprio jogo. Passámos pelos dois lados e em cada um deles cumprimos o que tínhamos que realizar. Não fomos piores por fazermos parte das hostes negras, nem melhores por estarmos ao serviço das forças brancas. Limitámos-nos a jogar o jogo, movimentando-nos pelo tabuleiro no cumprimento das regras estabelecidas e que sempre foram iguais para os dois lados.
Sobre esse tabuleiro, todos estes personagens criaram as suas estratégias e jogaram na tentativa de um xeque-mate final que fizesse valer as suas hostes sobre as do adversário, sendo que os actores por detrás desses personagens passaram pelos dois lados sem pertencerem a nenhum deles. Luz e Sombra sempre foram as partes necessárias desse jogo dual, onde a ilusão nos manteve presos durante tantas encarnações.
Mas hoje o jogo tem que terminar. Não lá fora no mundo, pois o mundo cumpre apenas a sua função como tabuleiro necessário para que o jogo aconteça, mas dentro de cada um de nós. É isso que os novos tempos nos pedem.
Julgar que esse Novo que está para chegar irá retirar desse tabuleiro de xadrez as peças pretas, deixando apenas as brancas, é mais uma ilusão. Sem as peças pretas o jogo de xadrez não tem como acontecer, ficando as brancas sem utilidade. Ou o jogo existe, e dentro do contexto do mesmo, ambos os lados se manifestam em igualdade, pois nenhum deles é mais importante que o outro, ou o jogo simplesmente deixa de existir e nesse caso tanto as peças pretas quanto as brancas deverão ser guardadas, em conjunto, dentro da mesma caixa e o tabuleiro fechado, ficando apenas aquilo de que tantas vezes fugimos enquanto mergulhados dentro da ilusão desse mesmo jogo que é: A VIDA.
Aspirar à Luz é continuarmos presos na dualidade do mundo e, por isso mesmo, na ilusão. Que aspiremos, sim, à VIDA, à Consciência Pura e Plena, onde não há mais xeque-mates a dar ou a receber, onde não há mais Luz nem Sombra - partes contrárias dessa mesma ilusão -, mas apenas DEUS na unidade de todas as coisas.
E tudo isto é para acontecer dentro de nós, pois será em função dessa transformação que tudo à nossa volta mudará.
Paz Profunda, 
Pedro Elias. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A DISTORÇÃO DO AMOR DA DUALIDADE [parte 2]

Return of Pure Love Pure Light Painting - Jill Spear 

O Amor maior, como sendo a força de coesão da criação e o que existe de mais poderoso, aqui na densidade se encontra sufocado por equivalência, e é sentido como uma ameça à individualidade de cada pequeno "eu". 

Percebo as vezes meu ego apavorado com o vislumbre do Amor maior. Ele recua e diz "seu amar tudo, vou perder o critério, a referência das coisas...". Ele sente que se entregar ao amor absoluto significa se perder - o que é uma verdade - e por associar o amor à dor, provoca uma resistência (natural). Uma onda de amor, que livre é sentida como êxtase, se represada é sentida como angústia ou euforia ansiosa.

A compreensão que chega agora sobre a realidade do amor - através de textos, conversas e insights - está ajudando a quebrar as resistências. Como neste diálogo tirado do livro O Mago De Strovolos, que tornou mais nítida a diferença entre amor absoluto e o amor projetado:

- Imagine que neste exato momento, o ser amado perca seu corpo e você fique privado de sua companhia [...] Você pode amar além da forma?
- Sim
- Então porque não focaliza sua atenção lá? Porque precisa da forma?
- Porque a forma é linda.
- Eu não disse que não é linda, ela é imperfeita. [...] Abandone a imagem. Pare de estar enamorado pelo corpo material. Desdobre-se dentro do amor. Quando eu lhe mostrar aqueles a quem você ama dentro do Amor, você não se importará se eles tem corpos materiais ou não.

Nós impedimos que o Amor flua livre quando o colocamos em moldes (físicos, mentais, emocionais), aí ficamos dependente desses moldes. Essa dependência traz a dor. A idealização e a projeção do Amor é a origem do apego. Amar além da forma significa amar absolutamente, amar o todo - inclusive na forma.

Quando alguém fala "eu amo X, mas não posso ter X, portanto é ruim amar X", há essa distorção. O não ter gera a experiência da falta, sendo que a necessidade do "ter" vem da percepção de estarmos separados de algo, quando na verdade somos tudo (incluindo o X). Neste raciocínio, amar não é o problema.

A dor da falta - que surge projetada em algo ou na forma de uma saudade incialmente abstrata - é a ilusão da separatividade a ser transmutada e liberada. Me foi dito: "Quando sentir a dor da falta, não tenha medo, respire nela, atravesse-a, e verá essa dor ser diluída no Amor que há por trás". É um exercício duro, porque tudo o que sempre fizemos foi tentar abafar essa dor. Há o risco de, ao aceitá-la, nos depararmos com um vazio. Indo além do vazio, no entanto, encontramos a plenitude.

No novo testamento Cristo diz: "A todo aquele que abandonar pai e mãe e filhos por minha causa eu darei cem vezes isso, e pai e mãe e filhos." O que me vem é: abrir mão do amor na forma e se entregar ao Cristo/Consciência crística, que é o amor absoluto. E isso não quer dizer abrir mão dos amados, mas amá-los desse outro ponto, a Unidade. 

Da entrega plena ao Absoluto, o que me vem são apenas vislumbres. Mas ela me parece cada vez mais realizável. A medida que relembramos nossa natureza divina, que a nossa Realidade é o Amor, e que a vivência desse Amor irá nos arremessar para fora da ilusão.

Que a consciência crística presente em nós possa se expandir e nos tomar por completo! NAMASTE! 

A DISTORÇÃO DO AMOR NA DUALIDADE [parte 1]

Na Unidade, estado natural de todo ser, o amor é livre e pleno. Ele é inerente e presente em todos. Mas experiência da dualidade, ao sentir-se isolado de Deus, o ser humano perdeu a consciência e a dimensão de si mesmo, vendo-se pequeno e vazio. 

Na ilusão da separatividade, há um enraizado sentimento de falta e a necessidade de preenchê-la. Assim, o amor se confunde com a dor, pois há o medo dessa falta. O ser humano passa a ansiar o amor do outro para sentir-se valorizado e ter confirmado a sua existência. 

Assim, o amor torna-se condicionado, quer dizer, quando o ser ama, ele necessita que o outro o ame também. Quando não há essa correspondência, há uma profunda dor. 

Mas não é o amor que dói, e sim o apego, a necessidade de confirmação e correspondência do outro, a dependência e a permissão que o outro dite o seu valor. Sendo assim, perder o outro é perder o próprio valor, é perder a referência de si. Então, o ser humano passa a ter medo de perder o amor alheio, por medo de tornar-se insignificante, indigno de ser amado. Dentro deste sistema, o ser humano busca ser amado mais do que amar.

Mas quando ele vai um pouco além da distorção e lembra que é Deus, que é infinitude, que é completo, nesse momento o amor se torna límpido, incondicional. Ele pode amar sem medo, sem precisar que o outro o confirme, porque ele já é pleno e cheio desse amor. Para alguns isto pode parecer algo distante ou utópico, mas é simplesmente o nosso estado natural, e saber disso já traz uma perspectiva elevada, onde é possível vislumbrar a Unidade. Na Unidade não há dependência ou necessidade alguma, porque o ser é um com o todo, e sendo assim, o amor é livre, independente de ser romântico ou entre amigos, ele é um só, e ELE APENAS AMA, sem precisar ser correspondido. O exercicio de vocês na terra é aprender a dar amor, independente do quanto recebem. Esta é a chave para a libertação.